Empreendedores destacam a potência multicultural do Brasil para fortalecer o terceiro setor

Como brasileiros, adoramos exaltar nosso caráter multicultural e a habilidade que temos de abraçar diferentes manifestações socioculturais, sejam elas de onde vierem. Mas a verdade é que o Brasil ainda pode melhorar nesse quesito e aprender com os costumes de diversos lugares do mundo.

Quem diz isso são dois empresários que vivem no Brasil, mas moraram por anos em outros países e podem contar como essa fusão de conhecimento tem chance de dar certo no ramo do empreendedorismo nacional: Afonso Braga Neto é fundador da marca de cosméticos, chás e cafés #BeFreshBlends, junto com Gabi Luthai e responsável pelo espaço de eventos Spot 105; Já Benjamin Cano é dono da agência imobiliária de luxo Rio Exception ao lado de seu marido, Louis Planés.

Afonso já morou nos Estados Unidos, na cidade de Miami. Essas experiências, antes de impactarem sua vida profissional, trouxeram diversos ensinamentos para o Afonso “pessoa física”, como ele mesmo explica: “O choque de cultura que eu atravessei me fez abrir a cabeça para novos horizontes e também absorver ideias diferentes das quais eu estava acostumado”, afirma.

Com a cabeça fervilhando com novas referências e estímulos, foi mais fácil criar coragem para desenvolver a ideia da marca #BeFreshBlends. Nos Estados Unidos, as cores do bairro Wyn Wood Walls chamaram a sua atenção e serviram de inspiração para as embalagens dos produtos, que lembram a estética do grafite.

“Trouxe muito da cultura americana para a Be Fresh. Mesmo que algumas pessoas pensem que o grafite não é chique e apresenta uma estética ‘poluída’, é um visual que consegue representar várias sensações e emoções”, explica o empresário. “Quando eu passava por lá, sentia muita alegria ao olhar para aqueles muros grafitados e foi exatamente isso o que quis trazer para os clientes da empresa”.

Além dos Estados Unidos, Afonso passou boa parte de sua vida no Uruguai e foi a partir da arquitetura que surgiu a ideia para o seu espaço de eventos. “A cultura uruguaia me ajudou a pensar em diferentes tipos e arquiteturas similares aos grandes hotéis de Punta del Este. Juntando essa característica e a vivência com a natureza e o conceito modernista, foram preservados os traços da antiga fábrica de café em torno do espaço. No Uruguai, muitas construções são restauradas e modernizadas, sem perder sua essência e identidade. Afinal, cada ambiente tem a sua história e cultura e eu quis valorizar isso”.

A história de Benjamin Cano é um pouco diferente. Francês, natural da cidade de Toulouse, ele foi apresentador de TV em seu país de origem e escolheu o Brasil como lar há dez anos. Por aqui, toca a sua imobiliária no Rio e está gostando muito de tudo o que tem aprendido em terras brasileiras.

Para ele, o contato com o brasileiro foi muito positivo por destacar o lado humano das pessoas - algo que, na França, não via com muita frequência. “A cultura brasileira me ensinou a paciência e humildade, a me desfazer de coisas materiais”, conta. “Se na França eu queria ter a casa mais bonita e o carro mais caro, no Brasil comecei a valorizar o contato com o próximo”.

Os negócios não ficam de fora dessa troca cultural. O apresentador conta que o background da França foi extremamente importante para seus empreendimentos no Brasil. “Aprendi o valor do trabalho, o rigor e a excelência enquanto francês nativo. Mas aqui no Brasil e no Rio, especificamente, também é preciso investir nas relações humanas para se ter sucesso”, opina.

Por mais que o perfil dos consumidores das duas empresas sejam distintos, os dois empreendedores concordam que o terceiro setor é único no Brasil. Diferente de muitos países, o foco na qualidade do atendimento ainda seria primordial por aqui.

De acordo com Benjamin, os brasileiros têm uma maneira específica de agir, comprar e interagir com os vendedores: “Aqui no Brasil, já vi pessoas saírem de loja por não servirem cafézinho para elas. Já na França isso não acontece porque é uma relação de maior distância”.

Já Afonso acredita, que, apesar da abertura do Brasil a tendências de mercado, algumas modas ainda vão demorar a cair no gosto do brasileiro justamente por conta desse apego ao atendimento. “O mercado de vending machines, por exemplo, que é super bem recebido nos Estados Unidos, não é tão popular em solo nacional porque culturalmente, nós sempre esperamos que tenha algum funcionário para prestar o serviço”, complementa. “Apesar da resistência ao automatizado, creio que é um mercado em crescimento e grande ascensão, principalmente por causa da pandemia e redução de contato”.

Mesmo com alguns desafios econômicos e socioculturais, especialmente nesse contexto da pandemia causada pelo coronavírus, ambos os empresários veem o Brasil com muito potencial para crescimento e desenvolvimento de oportunidades de negócio.

“O mercado brasileiro é muito versátil e se transforma constantemente. De um lado, há estabelecimentos antigos, como botecos, e de outro, existem tendências como barbearias gourmet. Há espaço para novos marcas e isso é muito importante”, avalia Benjamin.

Afonso concorda e vê o panorama nacional com muita esperança. “Mesmo com a atual crise mundial que afetou bruscamente nosso país, vejo grandes chances para um novo recomeço de nossa economia”, completa.

Publicado às 20h45

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